sábado, 22 de março de 2008

Libertadores de 1983 - 25 anos


O ano de 2008 marca os 25 anos da conquista da primeira Copa Libertadores da América pelo Tricolor.
A partir de hoje, o site oficial do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense começa a publicar uma retrospectiva daquela vitoriosa campanha de 1983 que culminou com a conquista inesquecível do Mundial Interclubes.
Acompanhe aqui, passo a passo, a trajetória gremista rumo ao maior título do Continente.

O mês de março de 1983 marcou a estréia do Grêmio na Copa Libertadores da América.
O vice-campeonato brasileiro do ano anterior, contra o Flamengo, garantiu o Tricolor pela segunda vez na maior competição do Continente.
Ao contrário da primeira edição quando o Grêmio acabou eliminado na primeira fase enfrentando São Paulo, Defensor e Peñarol, a direção organizou todo um planejamento visando conquistar o título.
Vislumbrando a possibilidade de trazer para o Rio Grande do Sul a maior conquista da história, o presidente Fábio Koff colocou o Mundial do Japão como objetivo maior.
Quando da contratação da comissão técnica, comandada por Valdir Espinosa, Koff deixou bem claro qual seria a missão.
O primeiro adversário foi o Flamengo de Zico.
A equipe carioca estava entalada na garganta depois da grande decisão do Brasileirão de 82. Foram três jogos decisivos com o rubro-negro levando a melhor em pleno estádio Olímpico.


Por Márcio Neves da Silva


*Terça-feira, 22 de março de 1983

Vitória importante em Santa Cruz de La Sierra.

Apesar do forte calor e do clima abafado, Grêmio entrou em campo no estádio Ramón “Tahuichi” Aguilera encontrando um ambiente surpreendentemente favorável para enfrentar o Blooming. Depois da derrota para o Bolívar na estréia, o torcedor compareceu desanimado para o enfrentamento contra o Tricolor. Aquele clima de pressão característico dos jogos pela Libertadores realizados na Argentina, Uruguai e Chile praticamente não existiu.
Para o Grêmio, bastava colocar a bola no chão e enfrentar o Blooming sem se preocupar com os fatores externos.
Já nos primeiros minutos de jogo, ficou evidente a superioridade gremista.
Lambari apresentava dificuldades para vencer o lateral e o time passou a forçar as jogadas pela direita.
Renato tratou de infernizar a defesa boliviana, porém exagerando um pouco na individualidade.
No meio, César e Osvaldo se movimentavam bastante aparecendo com força no ataque.
O time criou bastante nos primeiros 45 minutos e teve a oportunidade de abrir o marcador em pelo menos quatro lances. No melhor deles, Tita cobrou uma falta no poste direito do goleiro Terrazas. No rebote, Lambari perdeu.
Certamente, no intervalo, o técnico Valdir Espinosa pediu um pouco mais de empenho aos jogadores e mais tranqüilidade na hora de concluir.
A segunda etapa começou com um susto: logo no primeiro minuto, o ponta Reveliz chutou, a bola desviou em Silmar, tirou Remi da jogada e bateu no travessão.
Não demorou muito para o time responder: Renato recebeu de Tita na frente do goleiro, driblou e chutou para o gol aberto. O zagueiro Gallardo salvou sobre a linha mandando para escanteio.
Na cobrança do escanteio da esquerda de Lambari, Tita marcou de cabeça se antecipando à zaga, no primeiro pau.
Grêmio 1 a 0.
Dois minutos depois, a qualidade técnica de Renato surtiu efeito sobre o marcador. Bola levantada da esqueda no segundo pau. César ajeitou de cabeça. Renato dominou, deu um drible desconcertante no zagueiro e chutou na saída do goleiro.
Com 2 a 0 no marcador e sobrando em campo, a equipe diminuiu o ritmo tratando de tocar a bola. Provavelmente já pensando no desgaste que iriam enfrentar na altitude de La Paz na sexta-feira, dia 25.
Ainda que não tenha melhorado o saldo de gol, o Grêmio comemorou o primeiro lugar no Grupo.

Ficha técnica:

BLOOMING 0 x 2 GRÊMIO
22/03/1983
Copa Libertadores da América
Jogo 02
Estádio Ramón Tahuichi Aguilera – Santa Cruz de La Sierra - Bolívia

GRÊMIO:
Remi; Silmar, Leandro, De León e Casemiro; China, Osvaldo e Tita; Renato, César e Lambari.
Técnico: Valdir Espinosa

BLOOMING:
Terrazas; Herrera, Gallardo (Noro) Villalon e Vaca. Melgar, Castillos (Paniagua) e Taborga; Reveliz, Sanchez e Rojas.

GOLS:
Tita (GRE – 07 do 2ºT)
Renato (GRE – 09 do 2ºT)

ARBITRAGEM:
Ramón Barreto
Jose Martinez e Ernesto Filippi

BANCO DE RESERVAS
Beto, Baidek, Bonamigo, Robson e Tarciso.




*Segunda-feira, 21 de março de 1983.

Operação Bolívia.

Sem muitas informações sobre os dois adversários bolivianos do Grupo 2 da Libertadores, o Grêmio desembarcou em Santa Cruz de la Sierra com a obrigação de conquistar resultados positivos em território inimigo.
A principal preocupação ficava por conta do Bolívar, campeão do país e adversário da sexta-feira. Na semana anterior, o time de La Paz havia feito sua estréia jogando em casa e aplicando uma goleada de 6 a 0 sobre o Blooming.
O resultado deixou a equipe na liderança do Grupo por pontos e ainda com um excelente saldo de gols.
Porém, antes do combate contra o Bolivar, o objetivo era não perder o foco do Blooming. Apesar da fragilidade, era um adversário desconhecido e jogaria com o apoio de sua torcida e com a obrigação de vencer após a derrota na estréia.
O ponta-esquerda Tonho, lesionado, era a principal dúvida de Valdir Espinosa no ataque. Lambari era a opção.
Renato, completamente recuperado de uma lesão muscular, havia ganho a posição de Tarciso na direita após os últimos jogos pela Taça Brasil.
No meio, Osvaldo voltava ao time após ficar de fora na estréia.
O lateral-direito Paulo Roberto nem viajou para a Bolívia. Ficou em Porto Alegre negociando sua transferência para o São Paulo. Silmar ocuparia sua vaga.



*Sábado, cinco de março de 1983.

O fantasma da altitude.

Terminado o jogo contra o Flamengo, imediatamente o Grêmio tratou de projetar os dois jogos seguintes na Bolívia.
O empate na estréia da Libertadores não estava dentro das previsões e resultados positivos em território boliviano passaram a ser obrigatórios para o Tricolor manter a chance de classificação no grupo. Além das vitórias, ainda teria que torcer por resultados negativos do Flamengo.
O primeiro jogo da gira pelo exterior seria contra o Blooming, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, mas as atenções estavam voltadas para a partida seguinte. O adversário seria o Bolívar, campeão do país, na cidade de La Paz, 3.640 metros acima do nível do mar. Evidentemente, as preocupações ficavam por conta dos efeitos da altitude: um verdadeiro fantasma para os clubes que atuam na cidade e um grande aliado dos times locais.
O primeiro jogo estava marcado somente para o dia 22 e o Grêmio teria mais de duas semanas para se preparar.
Porém, antes disso, mais quatro jogos válidos pela Taça de Ouro: vitórias contra o Sergipe, em dois jogos. Empate com o Botafogo no Maracanã e derrota para o América, também no Maracanã. Todos os jogos com os titulares.

No dia 21, confira os preparativos e a viagem para Bolívia.



*Sexta-feira, quatro de março de 1983.

A estréia em um jogo emocionante:

Mais de 43 mil pagantes lotaram o estádio Olímpico para a estréia do Tricolor na Copa Libertadores de 1983.
Além de ser a abertura do Grupo 2, e contra um adversário que estava entalado na garganta, a partida estava recheada de atrativos para o torcedor. Pela primeira vez, Tita atuava contra o time que o revelou para o futebol. Do outro lado, o artilheiro Baltazar, autor do gol do título Brasileiro de 1981, também atuava contra seu ex-clube.
A TV Gaúcha transmitiu ao vivo para todo o País na narração de Galvão Bueno.
A vitória não veio, mas quem esteve presente viu um dos melhores jogos dos últimos tempos.
Empurrado pela torcida, o Grêmio partiu pra cima do Flamengo em busca da vitória.
Valdir Espinosa surpreendeu com uma modificação tática. Colocou Bonamigo no lugar de Osvaldo para aumentar o poder de marcação principalmente sobre Zico e Adílio.
O Flamengo acabou ficando sem Júnior, lesionado. Ademar entrou na lateral-esquerda.
Tudo transcorria dentro da normalidade e o Grêmio dominava os primeiros 15 minutos. Aos 16, o zagueiro Hugo de León tentou sair jogando pela direita, ao lado da área. Zico deu o combate e conseguiu roubar a bola do capitão gremista fazendo o cruzamento. O artilheiro Baltazar, ex-Grêmio, dominou com o pé direito, deu um chapéu no marcador que era Leandro e, também de pé direito, com um leve toque, mandou a bola no ângulo esquerdo da meta do goleiro Remi que nem se mexeu.
Foi um golaço.
Inconformado com a falha no lance, De León abandonou qualquer obediência tática e se atirou ao ataque para se redimir.
Aos 24, Tita tabelou com Bonamigo e chutou no poste.
O Tricolor ainda teve três boas oportunidades, mas o goleiro Raul estava em noite inspirada.
Faltando três minutos para o final da primeira etapa, Remi saiu errado da meta e Adílio concluiu de cabeça. O zagueiro Leandro salvou sobre a linha evitando o segundo gol carioca.
O segundo tempo começou com o Flamengo melhor. Com a vantagem no marcador, Zico comandou o toque de bola no meio campo.
Aos sete minutos, Espinosa colocou o ponteiro Lambari no lugar de Tonho querendo aproveitar a velocidade do atacante. Porém, o time só melhorou mesmo quando, aos 17 minutos, Renato entrou no lugar de Tarciso. Recém promovido das categorias de base, o jovem ponteiro vindo de Bento Gonçalves queria mostrar serviço.
Em sua primeira jogada, acertou o poste do goleiro Raul.
A pressão ficou insustentável.
Aos 24, Bonamigo foi derrubado na área, mas Arnaldo César Coelho nada marcou para desespero do vice-presidente de Futebol, Alberto Galia.
O Flamengo recuou.
Edson entrou no lugar de Robertinho para ajudar na marcação e Lico ficou isolado. Baltazar passou a ser o único atacante mais avançado.
Aos 35 minutos, o esforço comovente de Hugo de León para se recuperar do erro da primeira etapa foi premiado. Após escanteio da esquerda, a zaga do Flamengo afastou de cabeça para a entrada da área, o capitão gremista pegou de primeira, de pé esquerdo, no ângulo esquerdo de Raul. A bola ainda bateu no poste antes de entrar.
Festa da torcida gremista!
Festa de Hugo de León!
O resultado final não foi aquele esperado, mas acabou fazendo justiça à boa atuação e à qualidade das duas equipes.
O presidente Fábio Koff ficou indignado com a atuação do árbitro e chamou Arnaldo César Coelho de “ladrão”. O Vice de Futebol, Alberto Galia, também mostrou seu descontentamento.
A única alternativa era buscar duas vitórias na Bolívia, contra Blooming e Bolívar, algo inédito até então na história da Libertadores.

Ficha técnica:

GRÊMIO 1 x 1 FLAMENGO
04/03/1983
Copa Libertadores da América
Jogo 01
Estádio Olímpico

GRÊMIO:
Remi; Paulo Roberto, Leandro, De León e Casemiro; China, Bonamigo e Tita; Tarciso (Renato), César e Tonho (Lambari).
Técnico: Valdir Espinosa

FLAMENGO:
Raul; Leandro, Figueiredo, Marinho e Ademar; Andrade, Adílio e Zico; Robertinho (Edson), Baltazar e Lico.
Técnico: Paulo César Carpeggiani

GOLS:
Baltazar (FLA – 16 do 1ºT)
De León (GRE – 35 do 2ºT)

ARBITRAGEM:
Arnaldo César Coelho
Romualdo Arpi Filho e José de Assis Aragão

PÚBLICO E RENDA
43.125 pagantes
CR$ 33.610.000,00

BANCO DE RESERVAS
Beto, Newmar, Osvaldo, Renato e Lambari.



Quinta-feira, três de março de 1983:

Os preparativos:

Uma boa estréia na competição era de vital importância para as pretensões gremistas de encaminhar a classificação no Grupo 2, que contava ainda com as participações dos bolivianos do Blooming e do Bolívar. Ao contrário do que ocorre hoje em dia, apenas o campeão do grupo é que garantia classificação.
O jogo aumentava de importância já que os dois próximos seriam realizados fora de casa, na Bolívia.
Desde cedo, as duas diretorias trabalhavam forte nos bastidores.
O presidente do Flamengo, Antônio Augusto Abranches, passou a criticar publicamente a escalação do árbitro Arnaldo César Coelho para comandar a partida no Olímpico. Do outro lado, Fábio Koff definiu a manobra do dirigente carioca como “uma clara tentativa de pressionar a arbitragem”. Nenhuma novidade, já que o mesmo cartola havia utilizado o mesmo artifício quando da decisão do Campeonato Brasileiro do ano anterior.
Dentro de campo, mistério de ambas as partes: pelo Grêmio, o técnico Espinosa treinou uma equipe, mas surpreendeu na hora do jogo. A derrota no final de semana para o Atlético Paranaense em pleno estádio Olímpico, e com a equipe titular, deixou uma pulga atrás da orelha do comandante gremista fazendo com que o time fosse modificado em cima da hora. Pelo Flamengo, o treinador Paulo César Carpeggiani aguardava um parecer do Departamento Médico sobre a situação do lateral-esquerdo Júnior, que sentia dores.
Apesar do resultado negativo de domingo pela Taça de Ouro contra os paranaenses e a marcação do jogo para uma sexta-feira à noite, a mobilização da torcida era grande. Principalmente pela possibilidade de uma revanche contra os rubro-negros.
Era certeza de casa cheia.

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